sexta-feira, 17 de maio de 2013

Maximas do livro "Comer Rezar e Amar"

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Editora Objetiva
340 paginas

Elizabeth Gilbert:

David e eu nos conhecemos porque ele estava atuando em uma peça baseada em contos meus. Ele fazia um personagem que eu havia inventado, o que é de certa forma revelador. No amor desesperado é sempre assim, não é? No amor desesperado, nós sempre inventamos os personagens dos nossos parceiros, exigindo que eles sejam o que precisamos que sejam, e depois ficando arrasados quando eles se recusam a desempenhar o papel que nós mesmos criamos.
L’arte d’arrangiarsi – a arte de produzir algo a partir do nada. A arte de transformar alguns poucos ingredientes simples em um banquete, ou alguns amigos reunidos em uma festa. Qualquer pessoa com talento para felicidade pode fazer isso, não apenas os ricos.
Olho para o Augusteum e penso que, no final das contas, talvez a minha vida na verdade não tenha sido tão caótica assim. É apenas este mundo que é caótico e nos traz mudanças que ninguém poderia ter previsto. O Augusteum me alerta para eu não me apegar a nenhuma idéia inútil sobre quem sou, o que represento, a quem pertenço ou que função eu poderia ter sido criada para executar. Sim, eu ontem posso ter sido um glorioso monumento a alguém – mas amanha posso virar um deposito de fogos de artifício. Até mesmo na Cidade Eterna, diz o silencioso Augusteum, é preciso estar preparado para tumultuosas e intermináveis ondas de transformação.
Minha mãe fez escolhas na vida, como todos nós precisamos fazer, e está em paz com elas. Posso ver a sua paz. Ela não julgou a si mesma. Os benefícios das suas escolhas são enormes – um casamento duradouro e estável com um homem a quem ela ainda chama de melhor amigo; uma família que agora inclui netos que a adoram; a certeza de sua própria forca. Talvez algumas coisas tenham sido sacrificadas, e meu pai também fez lá os seus sacrifícios – mas qual de nós vive sem sacrifício?
David: “beleza atrai beleza”. “sem emoção, a gente não passa de robôs.”
Bhagavad Gita – diz que é melhor viver o seu próprio destino de forma imperfeita do que viver a imitação da vida de outra pessoa com perfeição.
Os freudianos afirmam que a infelicidade é o resultado inevitável de um embate entre nossas pulsões naturais e as necessidades da civilização. (como explica minha amiga psicóloga, Deborah: “O desejo é uma falha de design.”) Os iogues, no entanto, dizem que o descontentamento humano é um simples caso de identidade equivocada. Nós somos infelizes porque achamos que somos meros indivíduos, sozinhos com nossos medos e falhas, com nosso ressentimento e nossa mortalidade. Acreditamos equivocadamente que nossos pequenos e limitados egos constituem toda a nossa natureza. Não conseguimos reconhecer nossa natureza divina mais profunda. Não percebemos que, em algum lugar dentro de todos nós, existe um Eu supremo que está eternamente em paz. Esse Eu supremo é a nossa verdadeira identidade, universal e divina. Se você não perceber essa verdade, dizem os iogues, estará sempre desesperado, idéia expressa de forma inteligente na seguinte frase irritada do filósofo estóico grego Epíteto: “Você leva Deus dentro de si, seu pobre desgraçado, e não sabe disso.”
“Nosso propósito nesta vida, portanto”, escreveu Santo Agostinho, ele próprio um pouco iogue, “é recuperar a saúde do olho do coração através do qual se pode ver Deus.”
Lembrando-me de algo que minha Guru dissera certa vez: que você nunca deveria dar a si mesmo a oportunidade de se entregar porque, quando o faz, isso se torna uma tendência, e nunca mais pára de acontecer. Em vez disso, você precisa treinar ficar forte.
Meus pensamentos voltam sem parar a meu casamento falido, e toda a vergonha e a raiva que acompanharam esse acontecimento. Pior ainda, voltei a pensar em David. Em minha mente, discuto com ele, zangada e sentindo-me sozinha, e lembro-me de cada coisa que ele disse ou fez para me magoar. Alem disso, não consigo parar de pensar em nossa felicidade juntos, no delírio emocionante de quando as coisas iam bem.
Richard Texas: - Provavelmente era. O problema é que você não entende o que essa expressão significa. As pessoas acham que a alma gêmea é o encaixe perfeito, e é isso que todo mundo quer. Mas a verdadeira alma gêmea é um espelho, a pessoa que mostra tudo que esta prendendo você, a pessoa que chama a sua atenção para você mesmo para que você possa mudar a sua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importante que você vai conhecer, porque elas derrubam as suas paredes e te acordam com um tapa. Mas viver com uma alma gêmea para sempre? Não. Dói demais. As almas gêmeas só entram na sua vida para revelar a você uma outra camada de você mesmo, e depois vão embora. Acabou, Sacolão. A missão do David era acordar você, tirar você daquele casamento do qual você precisava sair, destrocar um pouquinho o seu ego, mostrar para você os seus obstáculos e vícios, despedaçar o seu coração para uma nova luz poder entrar, deixar você tão desesperada e fora de controle que você fosse obrigada a transformar a sua vida, e depois apresentar você `a sua mestra espiritual e sair fora. Essa era a função dele, e ele foi ótimo, mas agora acabou. O problema é que você não consegue aceitar isso, que esse relacionamento tinha um prazo de validade bem curto. Você parece um cachorro cheirando lixo, baby... fica lambendo uma lata vazia, tentando tirar mais comida lá de dentro. E, se você não tomar cuidado, essa lata vai ficar presa no seu focinho para sempre e tornar sua vida infeliz. Então largue isso.
Senhora quase 100 anos: “Só existem dois assuntos pelos quais os seres humanos brigaram em toda a história: Quanto você me ama? e Quem é o chefe?” Todo o resto é, de alguma forma, administrável. Mas essas duas questões, o amor e o controle, são a perdição de todos nós, fazem-nos tropeçar e provocam guerras, tristeza e sofrimento.
Vipassana é uma técnica de meditação budista ultra-ortodoxa, simples e muito intensiva. Basicamente, consiste apenas em ficar sentado. A meditação Vipassana é a pratica da observação pura, é testemunhar o funcionamento da própria mente e oferecer sua total contemplação a seus padrões de pensamento, mas sem deixar que nada tire você do lugar onde está sentado. Na Vipassana sequer se faz menção a “Deus”, já que a noção de Deus é considerada, por alguns budistas, o derradeiro objeto da dependência, o ultimo cobertor de segurança, a ultima coisa a ser abandonada no caminho rumo ao puro desapego.
Mas houve algo de levemente emocionante para mim ao perceber que, durante meus 34 anos na Terra, nunca deixei de dar um tapa em um mosquito que estivesse me picando. Fiz isso automaticamente, assim como reagi a milhões de outros sinais ao longo da vida, grandes e pequenos, de dor ou prazer. Sempre que alguma coisa acontece, eu reajo. Mas ali estava eu – ignorando o reflexo. Eu estava fazendo uma coisa que nunca tinha feito antes. Uma coisa pequena, tudo bem, mas quando foi que eu pude dizer isso? E o que serei capaz de fazer amanha que ainda não sou capaz de fazer hoje?
Há tanta coisa no meu destino que não posso controlar, mas outras coisas estão, sim, sob a minha jurisdição. Existem determinados bilhetes de loteria que posso comprar, aumentando, assim, minhas chances de encontrar satisfação. Posso decidir o que como, o que leio e o que estudo. Posso escolher como vou encarar as circunstâncias desafortunadas da minha vida – se as verei como maldições ou como oportunidades (e, quando não tiver forças para adotar o ponto de vista mais otimista, porque estou sentindo pena demais de mim mesma, posso decidir continuar tentando mudar minha atitude). Posso escolher minhas palavras e o tom de voz com que falo com os outros. E, acima de tudo, posso escolher meus pensamentos.

E então, para minha surpresa, ainda na meditação, fiz uma coisa esquisita. Convidei meu ex-marido a, por favor, juntar-se a mim ali naquele telhado na Índia. Perguntei-lhe se ele teria a bondade de me encontrar ali para aquela despedida. Então esperei ate senti-lo chegar. E ele de fato chegou. Sua presença subitamente tornou-se absoluta e tangível. Eu praticamente pude sentir seu cheiro.

Então, qual é o meu caráter natural? Adoro estudar neste ashram, mas o meu sonho de encontrar a divindade passeando silenciosamente por aqui com um sorriso delicado e etéreo – quem é essa pessoa? Provavelmente alguém que vi em um programa de TV. A realidade é que é um pouco triste para mim reconhecer que nunca serei essa pessoa. Sempre fui tão fascinada por essas almas etéreas, delicadas. Sempre quis ser a moça silenciosa. Provavelmente, justamente porque não sou. É o mesmo motivo que me leva a achar tão bonitos cabelos grossos, escuros – justamente porque não os tenho, porque não posso tê-los. Em algum momento, porém, é preciso se contentar com aquilo que se recebeu e, se Deus quisesse que eu fosse uma moça tímida de cabelos grossos e escuros, Ele teria me criado assim, mas não criou. Talvez, então, seja útil aceitar como fui criada e assumir plenamente a mim mesma desse jeito.

Perguntei-me: “Por que passei toda a minha vida correndo atrás de felicidade, quando o contentamento estava aqui o tempo todo?”
Não sei por quanto tempo fiquei pairando nesse esplêndido éter de união antes de ter um pensamento súbito e urgente: “Eu quero manter essa experiência para sempre!” E foi então que comecei a sair dela. Bastaram duas palavrinhas – Eu quero! -, e comecei a escorregar de volta para a Terra. Então minha mente começou a protestar de verdade – não! Eu não quero sair daqui! -, e eu escorreguei ainda mais.

Quando muitos deles saiam de suas meditações e me diziam que eu havia representado para eles, durante o retiro, uma “presença silenciosa, deslizante, etérea”. Então seria essa a ultima brincadeira que o ashram estava fazendo comigo? Depois de eu aprender a aceitar minha natureza social exuberante e falastrona, e de assumir sem restrições minha Recepcionista-Chefe interna – só então, afinal, é que eu poderia me tornar a Moça Quietinha do Fundo do Templo?

Você pode constatar que obsessões de uma vida toda desapareceram, ou que padrões ruins, indissolúveis enfim, se ,modificaram. Irritações mesquinhas que costumavam enlouquecê-lo não representam mais um problema, enquanto antigas infelicidades colossais, que você outrora suportava por hábito, agora não serão mais toleradas sequer durante cinco minutos. Relacionamentos venenosos são arejados ou descartados, e pessoas mais solares, mais benéficas, começam a entrar no seu mundo.

-       O homem é um demônio, o homem é um deus. Os dois verdade.
A idéia é que, como explicou muitas vezes a minha Guru, os seres humanos nascem com o mesmo potencial tanto para a contração quanto para a expansão. Os ingredientes tanto da escuridão quanto da luz estão igualmente presentes em todos nós, e cabe ao individuo (ou `a família, ou `a sociedade) decidir o que irá prevalecer – as virtudes ou a malevolência.

Amiga Darcey me falou certa vez – que toda a tristeza e dificuldade deste mundo é causada por pessoas infelizes. Não apenas do ponto de vista global, como Stalin e Hitler, mas também no nível menor, pessoal. Ate mesmo na minha própria vida, posso ver exatamente onde meus acessos de infelicidade causaram sofrimento, preocupação ou (no melhor dos casos) incômodo para as pessoas `a minha volta. A busca pelo contentamento, portanto, não é apenas um ato de autopreservação e de autobenefício, mas também um generoso presente ao mundo. Eliminar toda a sua infelicidade tira você do caminho. Você deixa de ser um obstáculo não apenas para si mesmo, mas para qualquer outra pessoa. Só então fica livre para ajudar e desfrutar outras pessoas.

Essa é a maior lição do carma (assim como da psicologia ocidental, por sinal) – cuide dos problemas agora ou vai ter de sofrer de novo mais tarde, quando estragar tudo da próxima vez. E a repetição do sofrimento – isso é o inferno. Sair dessa repetição sem fim para um novo nível de compreensão – é ai que você ira encontrar o céu.

Wayan: “Perder o equilíbrio `as vezes por amor faz parte de uma vida equilibrada.”

Os sábios iogues dizem que a dor da vida humana é causada pelas palavras, assim como toda a alegria.